segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Dez considerações sobre a nova polêmica

Algumas poucas e desimportantes considerações sobre esta nova polêmica nacional, a dos "rolezinhos" nos sagrados shopping centers:
1) Não sei por que tanta confusão. A Constituição proíbe qualquer tipo de discriminação e assegura o direito de ir e vir;
2) Os jovens pretos, pardos, pobres e da periferia, então, podem, perfeitamente frequentar, sozinhos ou em grupos os shopping centers;
3) Se não cometerem nenhum crime, não há nenhum motivo para a intervenção dos seguranças ou da polícia;
4) Se, ao contrário, forem flagrados em delito, claro que a intervenção policial é necessária;

5) Os donos dos shoppings, acredito, conhecem, pelo menos, os rudimentos da lei, e portanto, não podem impedir a entrada dos jovens pretos, pardos, pobres e da periferia;
6) Juiz que dá razão aos donos de shoppings que querem impedir a entrada dos jovens pretos, pardos, pobres e da periferia são qualquer coisa menos juízes;
7) A PM, em suas violentas, injustificadas e ilegais intervenções, não tem feito nada além do que vem fazendo desde que foi criada, que é servir como força auxiliar da oligarquia, ou, mais claramente, como jagunços de coronéis;
8) Os donos de shoppings centers, seus administradores, os lojistas e grande parte do público que se indigna com a presença dos jovens pretos, pardos, pobres e da periferia e inventam pretextos para expulsá-los do sagrado recinto dos shoppings, na verdade fazem isso por um motivo simples, mas nunca revelado: eles são contra o Artigo 5º do Capítulo I da Constituição Brasileira, que diz que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Para eles, isso é um absurdo. Por isso, e para não incorrerem nas penas legais, mentem, distorcem os fatos, inventam as histórias mais absurdas para encobrir o seu preconceito e ódio de classe;
9) São esses mesmos que acham que o Brasil de uma década atrás era uma beleza porque essa "gente feia" - uma expressão que já ouvi diversas vezes - vivia lá em seu cantinho, sem incomodar, quase invisíveis, servindo, bem baratinho, de diversas maneiras, o pessoal "bonito", de pele clara, que acha que descende de um "wasp";
10) Por último, e para resumir essa situação a qual tantos "intelectuais" têm se debruçados nos últimos dias e falado as mais sonoras bobagens: é a luta de classes, estúpido!

5 comentários:

  1. FICÇÃO, MAS NÃO MUITO: SURGE O ROLEZINHO

    Deve ter sido mais ou menos assim (com as devidas mudanças de linguajar e de gírias cariocas para paulistas):

    Três jovens conversam na porta de um bar na periferia de São Paulo. Um quarto se aproxima, com cara de poucos amigos:

    - O que foi, mano? Que cara é essa?

    - Tô bolado!

    Os outros ficam quietos, esperando a história. O outro desabafa:

    - Tava no (cita o nome do shopping mais bacana da região) com a mina. Aí ela viu uma roupa numa loja e entrou. Eu fui atrás. A p… vendedora ficou olhando esquisito pra mina. Já não gostei, mas a mina não ligou, acho que nem viu Ficou olhando as roupas. Aí eu vi o segurança da loja ficando perto da porta. Aí logo veio um outro, do shopping. Pôrra! Eles estavam achando que a gente ia roubar! Pôrra, a mina tem dinheiro pra comprar aquela merda de roupa! Eu também tenho pra dar pra ela! Fiquei encarando os caras, ficou tenso. Aí a mina viu e resolveu ir embora, acho que pra não dar confusão. Fiquei bolado!

    - Eles olha assim pra todo mundo daqui. Um tempo eu estava com fulano lá no (cita o segundo shopping mais legal) e entramo numa loja de informática. Peguei um troço lá e fiquei olhando. Aí o fulano me cutucou e fez assim com a cabeça (movimento de apontar com o queixo). Um vendedor tinha ficado na porta e um segurança perto, olhando pela vitrina. Também fiquei bolado e falei pro vendedor: “qual é, mano? Tá olhando o quê? Acha que vou roubar?”. Ele ficou quieto e o segurança veio ficar perto dele. Fiquei mais bolado! Aí o fulano disse” “vamo embora. Esses caras são muito mané e essa loja é uma merda”. Aí a gente foi embora, mas eu queria era dar umas porradas nele.

    O primeiro volta:

    - Eles acha que a gente é tudo ladrão. Porra, todo mundo estuda e trabalha e a eles ficam olhando como se a gente está no caminho errado!

    Um terceiro, que estivera calado:

    - Aê, vamo fazê? Nóis junta mais uns dez e umas mina e vai lá no (cita o shopping mais bacana) dar um rolê, zoar eles. Vai tudo junto. Quero ver eles encarar nóis tudo junto. Vamo fazê?

    - Já é!

    - Demorô!

    - Vambora!

    Esses garotos e garotas, mais do que qualquer coisa, creio, estão dando um aviso, um salve-geral, para certa parte significativa da sociedade brasileira: “Hoje, sozinho, sou fraco e não tenho dinheiro, por isso venho em bando só pra zoar. Mas daqui a uns 15 anos, vou vir com meu filho e aí se algum segurança olhar feio pra ele, vai dar uma tremenda merda!”.
    http://coleguinhas.wordpress.com/2014/01/16/ficcao-mas-nao-muito-surge-o-rolezinho/

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  2. A excelência, da prosa do Motta, já não precisa de afirmação.
    Todos que o leem sabem disso.
    No entanto, neste texto, houve uma superação que parecia impossível.
    Não existe um único adjetivo que possa caracterizar a magia da crônica, sua clareza, sua inteligência, sua objetividade e sua intenção de justiça.
    Parabéns Motta, crônica excepcional.
    Vida longa a você!
    Abraços!

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    1. Obrigado, Itárcio, mas acho que não mereço tantos e tão generosos elogios. Assim você me encabula...

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  3. Como vejo os 'rolezinhos' como um evento intencionalmente intensificado em ano de Copa e eleições, com a incrível coincidência de atos acirrados justamente em Itaquera, bem próximo ao Itaquerão (sede de abertura da Copa), tenho uma visão um pouco mais desconfiada disso. Concordo que todos têm direito de ir ao shopping e têm ido ao longo de décadas, desde que foram criados. Observo que eventos promovidos por shoppings em suas praças, tais como pagode no shopping, concurso de dança popular no shopping e mini-Carnaval têm justamente a finalidade de atrair público de todas as classes e tons. Tais eventos são bastante frequentes, em especial nos shoppings localizados nas periferias e frequentados por pessoas da periferia (ou já teriam falido). No entanto, grupos de 300, 500 ou 1000 pessoas juntas - até mesmo se fossem turistas escandinavos - requer alguma estratégia especial. Se entre essas pessoas houver as que de fato usam o passeio coletivo para desrespeitar a ordem mínima a ser mantida (ou seja: a que permita que outros usuários também usem o espaço com tranquilidade e segurança) e até para cometer delitos, fica difícil controlar a situação. É como os eventos convocados pelo MPL em junho do ano passado e a desculpa esfarrapada deles, dizendo que 'não temos como controlar o grupo' - mas nas convocações incitavam-nos de fato à revolta. Então, há os limites da razoabilidade e da cidadania. O direito ao trabalho também é importante e milhares de pobres trabalham em shoppings ou os frequentam como lazer ou para fazer compras nas lojas populares que lá também existem (do tipo 'Lojas Americanas, p.ex.). A questão é um pouco mais complexa, me parece, então. Quanto ao direito de reunião e livre manifestação, lembro que pela CF/88 tais reuniões têm que ser previamente comunicadas à autoridade competente, é o que diz o artigo que garante tal direito. No mais, concordo em tudo.
    Abraços

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  4. Fala Sério!!!! Disse tudo esse garoto (a)!!! Agora no Brazilzilzil, tudo é referente a luta de classes, como se a prerrogativa de ser preto, pardo, pobre conferisse a alguém o direito de ser vândalo, ir contra as leis e direitos dos outros só porque são "manos" oprimidos e injustiçados. E quanto ao papel da polícia, é sério esse comentário? Só a polícia serve bode expiatório? Ou eu vivo em outro país? E não sou capaz de enxergar funcionários de instituições financeiras, órgãos públicos do judiciário, executivo, de empresas privadas dos mais diversos seguimentos que são lacaios de quem detém o poder? Incrível como tudo nesse país é feito por conveniência...

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