domingo, 13 de outubro de 2013

Brasil e parceiros do Brics contrariam pessimistas


Nossos economistas, frequentadores habituais das páginas dos jornalões, não cansam de prever as maiores dificuldades do mundo para o crescimento do país. O problema é que, quase sempre, as previsões são desmentidas pelos fatos, ou seja, o mundo real se sobrepõe ao universo ficcional imaginado pelos tais especialistas.
Um dos passatempos preferidos desse pessoal, nos últimos anos, tem sido decretar a falência do grupo de países que se destacam entre os emergentes, alcunhado de Brics, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O bloco tem sido, nos últimos anos, o principal responsável pelo crescimento da economia mundial.
Os Brics seguem cada vez mais fortes, individualmente e como bloco, aumentando o comércio e as relações bilaterais entre seus integrantes.
O site Gazeta Russa, a propósito do tema, publicou uma reportagem em que ouve vários analistas, que, contrariando outros tantos, acham que os Brics ainda têm muita lenha para queimar.
A íntegra da matéria é a seguinte:

Para especialistas russos, potencial do Brics está longe de ser esgotado

Víktor Kuzmin, especial para a Gazeta Russa

Otimismo dos especialistas ouvidos pela Gazeta Russa em relação o futuro do Brics tem como base quatro pilares, dos quais o principal é o crescimento do consumo interno nos países do Brics devido ao aumento da população.

Previsões do fim do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) como força motriz da economia global são prematuras, afirmam especialistas russos. O potencial econômico dessa associação informal está longe de ser esgotado.
Ainda recentemente, o Brics registrava um crescimento econômico mais rápido do que o G7. Hoje em dia, porém, apresenta uma desaceleração econômica como os demais países emergentes. No final de 2013, a Rússia verá seu PIB aumentar entre 1,5% e 1,8%. A China e a Índia terão uma taxa de crescimento maior, mas abaixo dos valores registrados anteriormente. O Brasil seguirá quase sem crescer.
O economista norte-americano Nouriel Roubini, que previu a turbulência de 2008, profetizou um futuro decadente do Brics. No entanto, parece que os pessimistas tiveram pressa. Pelo menos nos próximos 3 a 5 anos, o grupo continuará seguindo à frente da economia global, devendo retomar o crescimento já no próximo ano. Prova disso são as previsões de crescimento do PIB dos países do Brics em 2014 feitas pelos especialistas ouvidos pela Gazeta Russa no início deste mês e contidas no World Economic Outlook de outubro do FMI (Fundo Monetário Internacional).
A reportagem conversou com William Wilson e Christopher Hartwell, analistas do Instituto de Pesquisa de Mercados Emergentes Skólkovo, Mark McFarland, economista-chefe do banco britânico Coutts & Co, Maksim Vasin, analista sênior da Agência Nacional de Rating, Emil Martirosian, membro da Academia Russa de Economia Nacional e de Administração Pública junto à Presidência, e Timur Nigmatúllin, analista do Investkafe.
O otimismo dos especialistas ouvidos pela Gazeta Russa em relação ao futuro do Brics tem como base quatro pilares, dos quais o principal é o crescimento do consumo interno nos países do grupo devido ao aumento da população, mudanças no perfil do consumo e ao aumento do número de milionários.
"Os países do Brics se tornaram grandes mercados de escoamento, com o crescente potencial para as startups bem sucedidas na indústria de tecnologia de informação, para muitas empresas multinacionais dos EUA e da Europa Ocidental", disse Martirosian.
O segundo fator é a  transformação e modernização da indústria rumo a uma circulação mais rápida de bens e serviços. O terceiro é a participação ativa do Estado na elaboração de uma política econômica e, como conseqüência, o aumento de investimentos públicos na economia sob as mais diversas formas. O quarto fator será a tão longamente almejada saída da União Europeia de uma recessão de dois anos e a aceleração econômica dos EUA.
A China continuará sendo líder do Brics em termos de crescimento do PIB, devendo crescer 7,4% em 2014, segundo as estimativas dos analistas do Instituto Skólkovo, e 8,2%, segundo as estimativas dos analistas do FMI. O segundo lugar do grupo será ocupado pela Índia, que, segundo os economista do FMI, deverá crescer 6,23% no ano que vem –segundo os analistas do Instituto Skólkovo, o aumento será de apenas 4,5% .
Os analistas dividem-se sobre quem ficará em terceiro lugar: a Rússia ou o Brasil. Mark McFarland acredita que a posição ficará com a Rússia, cuja economia irá crescer a uma taxa de 3% em 2014, quase duas vezes superior à atual, devido ao reforço do consumo interno e ao aumento das exportações líquidas de hidrocarbonetos. Timur Nigmatullin, do Investkafe, e os analistas do Instituto Skólkovo, são da mesma opinião.
"Na Rússia, a taxa de crescimento dobrará devido ao aumento do consumo interno. A exportação de fontes de energia atingiu um platô, razão pela qual os gastos públicos estão sendo contidos e as despesas de investimento continuam pequenas", ressaltam William Wilson e Christopher Hartwell. O FMI está como sempre mais otimista, avaliando em 3,7% o crescimento econômico da Rússia em 2014.
De acordo com McFarland, no caso do Brasil, os gastos com infraestrutura serão outro fator determinante, além do aumento do consumo interno. Para o especialista, em 2014, a economia brasileira crescerá apenas 2,4%. Já os especialistas do Instituto Skólkovo calculam em 2,5% a taxa de crescimento do Brasil para o ano que vem. Para eles, o crescimento da economia brasileira será condicionado ao aumento das despesas de investimento, enquanto as exportações brasileiras se manterão no platô devido à baixa demanda por parte da China.
A África do Sul crescerá 3,3%, segundo a previsão do FMI.
Para os especialistas, em 2014, a China também terá a melhor taxa de inflação no Brics, não superior a 2,9%, enquanto a Rússia atingirá uma inflação de 5,5%, o Brasil, de 6%, e a Índia, de 8,9%, afirma McFarland.
"A vantagem da China sobre seus parceiros do Brics é a de que a inflação baixa prevista para 2014 permitirá ao Banco Central e ao governo do país aplicar, se necessário, um amplo leque de medidas para o estímulo monetário e fiscal sem temer fomentar a inflação", disse o especialista.
Os especialistas preveem ainda o crescimento do intercâmbio comercial dentro do Brics. Em sete meses de 2013, as trocas comerciais da Rússia com os países do Brics diminuíram 0,6%, para US$ 58 bi. No entanto, até o final deste ano, o declínio deve ser compensado por um crescimento mais rápido. Em 2014, o intercâmbio comercial deve crescer entre 1% e 2%, afirma Nigmatúllin.
Os países do Brics representam 12,5% do comércio exterior da Rússia. Seu principal parceiro comercial é a China, com uma participação de 10,5 % do faturamento total do comércio exterior do país. Alguma expansão do comércio dentro do Brics é possível devido à diferença estrutural das economias.
"O baixo custo da mão de obra na China significa que os bens produzidos no país continuarão no piso da faixa de preços. A Rússia tem exportado recursos naturais como petróleo, gás e madeira. A Índia é conhecida pela venda de serviços, enquanto o Brasil é especializado em metais (principalmente minério de ferro) e agricultura", disseram os especialistas do Instituto Skólkovo.




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