quinta-feira, 7 de março de 2013

O ódio do senador Aloysio

Senador Aloysio Nunes Ferreira:
"E daí que Chávez foi eleito pelo povo? Hitler também foi."
Foi mesmo, senador?
José Cruz/Agência Senado
A notícia da morte do líder venezuelano Hugo Chávez foi notícia, na quarta-feira, no mundo todo. No Brasil, vizinho da Venezuela, a notícia se perdeu em meio a outras, como o julgamento do goleiro Bruno e a morte do vocalista do grupo Charlie Brown Jr., o Chorão, elevado pelos críticos musicais à categoria de um quase gênio, ou, pelo menos, como anotou um título num desses portais "noticiosos", "inspirador de uma geração".
Vá lá que a morte de Chávez não tenha suscitado nesta nossa "grande imprensa" a atenção devida. A gente sabe por quantas anda o nível intelectual e profissional das nossas publicações mais conhecidas, que se transformaram, nos últimos anos, em meros aparelhos partidários, que agem apenas com o intuito de bombardear o governo trabalhista.
O que surpreende, porém, é que nem mesmo instituições que sempre prezaram o rito, a pompa e a circunstância, como o Senado Federal, tenham entendido que a morte de Chávez não foi um acontecimento comum, que a sua figura, pela importância adquirida em sua história de vida, transcende os interesses mesquinhos da política nativa e os seus procedimentos rasteiros.
Nesse palco, brilhou o senador paulista tucano Aloysio Nunes Ferreira, ex-comunista de carteirinha que, com o passar dos anos, se tornou um inimigo feroz da ideologia que tanto admirava - e pela qual até pegou em armas, para combater a ditadura militar.
O caso está contado, resumidamente, a seguir, com base em noticiário da Agência Senado. É um exemplo de como as paixões são capazes de cegar qualquer pessoa, mesmo aquelas que, por dever de ofício, teriam de subjugá-las à razão. Eis a nota:

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) foi designado nesta quarta-feira (6) pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, como representante da Casa no funeral do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que teve a morte anunciada na terça-feira (5). Randolfe havia proposto um requerimento de pesar pela morte de Chávez, com a constituição de uma comissão de senadores para acompanhar a cerimônia de despedida do político venezuelano. 
- Nunca é tarde para destacar que, em dez anos, a Venezuela foi um dos raros países latino-americanos a declarar seu território livre do analfabetismo, dentre tantas outras conquistas sociais - afirmou Randolfe. 
A proposta, porém, foi objeto de grande debate. 
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) criticou a iniciativa. 
- Não posso deixar de me associar às condolências enviadas à família de um homem que faleceu, um presidente da República, um cidadão venezuelano, um homem que faleceu depois de um longo sofrimento. Agora, eu não posso me associar ao pesar pela morte de alguém que, no campo político, representa tudo aquilo que eu abomino. O Sr. Hugo Chávez foi um liberticida: atacou as liberdades democráticas na Venezuela. Sufocou a oposição. Castrou a liberdade de imprensa. E jogou o país numa profunda crise - disse Aloysio, para quem a proposta de Randolfe significaria uma associação política do Senado brasileiro ao regime chavista. 
Enquanto os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Lídice da Mata (PSB-BA), João Capiberibe (PSB-AP), Walter Pinheiro (PT-BA) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apoiaram o requerimento de Randolfe, os argumentos de Aloysio Nunes tiveram o apoio de José Agripino (DEM-RN), Waldemir Moka (PMDB-MS) e Mário Couto (PSDB-PA). 
Como o Senado já havia aprovado em Plenário voto de pesar em homenagem a Chávez, Renan Calheiros preferiu apenas designar Randolfe Rodrigues como representante da Casa no funeral. 

Outra notícia, da Folha, explicita com mais detalhes a intervenção do senador Ferreira:

(...) O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) trocou farpas com os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Randolfe depois de criticar o regime de Chávez. O tucano citou o regime nazista ao afirmar que “às vezes os mecanismos democráticos servem para a ascensão de líderes que se voltam contra a democracia”. 
As palavras do tucano provocaram a reação de Suplicy e Randolfe. “A comparação à suástica nazista talvez caiba mais a outros, a quem desaloja sem-terras, sem-teto, a quem pratica atos de arbitrariedade. Talvez a estes caiba mais a suástica nazista. Não cabe nessa situação”, disse Randolfe. 
Suplicy também afirmou que as palavras do tucano comparavam Chávez a Adolf Hitler. Ao responder o petista, Aloysio Nunes disse que não é “imbecil” e sua comparação não tinha como o objetivo dizer que Chavez foi “nazista”. “O nazismo, o regime antissemita, o racismo, não pode ser comparado com o desastre venezuelano de hoje, que nem de longe se assemelha ao nazismo. O senador Suplicy não entendeu o que eu disse.” 
As críticas mais duras a Chávez foram do senador Mário Couto (PSDB-PA), que comemorou a morte do presidente da Venezuela. “Ele foi um ditador, insensível, truculento, que tirou a liberdade do povo venezuelano. Ele não merece a mínima consideração, o mínimo respeito. Hugo Chávez já foi, e foi tarde.” 


Agora, aguarda-se o pronunciamento da Casa sobre a morte do cantor Chorão. Talvez, nesse caso, o senador Aloysio Nunes Ferreira seja mais benevolente, mais educado, mais civilizando, enfim.

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