domingo, 20 de maio de 2012

A cartolagem faz a festa

Marin ri: também, com R$ 160 mil mensais...(José Cruz/ABr)
O futebol é coisa séria. Pelo menos no Brasil. Tão séria que deveria ser olhado com mais cuidado pelos nossos governantes. Tudo bem que o país ainda está atônito com as traquinagens da dupla (por enquanto) Cachoeira/Demóstenes, que motivaram a abertura de uma CPMI que promete lances emocionantes. É um assunto e tanto, como esse do tal de Aref, a fera que comprou em poucos anos mais de uma centena e meia de imóveis em São Paulo, no período em que comandou a seção da prefeitura encarregada, vejam só que coincidência, de liberar a construção de prédios nas gestões Kassab e Serra.
Por essas e por outras passou praticamente despercebido um dos primeiros atos da nova administração da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, agora sob o comando de José Maria Marin, ex-ponta esquerda medíocre, político que fez carreira na ditadura militar e chegou até a governar o Estado de São Paulo, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, cartola que até outro dia estava semiaposentado e só voltou ao noticiário porque, na cerimônia de premiação da última Copa São Paulo de futebol júnior, foi flagrado embolsando a medalha de um dos jogadores campeões. 
Marin, que era um dos vice-presidentes da CBF, ficou no lugar do notório Ricardo Teixeira porque era mais velho que os outros diretores (fez 80 anos em maio) e porque contou com a ajuda, no arranjo político, do atual presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero, eminência parda, cardeal Richelieu dos negócios da bola no país.
Pois bem, depois de apresentar o nosso personagem, voltemos à medida administrativa que, se o país estivesse vivendo uma entressafra de notícias, ganharia manchetes de todos os jornalões: nosso herói, não contente com seu salário de quase R$ 100 mil mensais, deu a si próprio um aumento, pouca coisa, uns 60%, passando então a receber a ninharia de R$ 160 mil mensais como compensação ao trabalho extenuante de presidir a CBF. Como bônus, nomeou o amigão Del Nero assessor especial, com o salário de R$ 130 mil por mês. O pacote de bondades incluiu ainda o reajuste salarial de vários outros diretores, também bons amigos do peito. Tudo na casa das dezenas de milhares de reais, que é para ninguém reclamar.
A CBF é uma entidade privada, dirão alguns, e portanto não tem de dar satisfação sobre a folha salarial de seus diretores. É verdade, infelizmente a CBF está nas mãos da cartolagem, uma das mais perigosas espécimes de predadores existentes em todo o mundo. 
Quando a gente vê que o futebol brasileiro, um dos pontos altos da cultura brasileira, motivo de orgulho de toda a nação, está nas mãos dessa gente, dá vontade de chorar.
Se acreditasse em milagres, diria que ganhar cinco Copas do Mundo com essa turma na chefia é a prova inequívoca da prevalência do espírito sobre a matéria.
Mas como não fui ungido pela graça do Espírito Santo, prefiro acreditar que nem mesmo o mais rasteiro cartola é capaz de estragar o dom futebolístico do brasileiro.

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